Certamente você conhece uma mulher que já viveu um relacionamento abusivo. No entanto, muitas delas não conseguem perceber de forma clara o que estão vivendo por estarem em uma dependência emocional. Dessa forma, o abusador consegue cada vez mais ter domínio sobre seu parceiro ou parceira.
O início de um relacionamento, normalmente, é feito de muito carinho, amor e uma vontade enorme de estar perto de quem se ama. Porém, em uma relação abusiva, esse começo é crucial para o abusador conseguir envolver seu alvo suficientemente.
Desta maneira, ele quer que a vítima acredite que suas atitudes são de carinho e cuidado. Logo após ter envolvido a pessoa, o abusador inicia o ciclo universal de abuso. A princípio, ele tenta controlar a vítima e faz algumas proibições veladas. Ao afastá-la de sua família, por exemplo, o mais comum é dizer que eles não gostam da vítima ou que não os aceita.
Em seguida, ele controla sua maneira de vestir, de falar, suas amizades e até mesmo sua vida financeira. Enquanto a vítima acredita que este comportamento é somente para protegê-la, começa a fase das agressões, que são explosivas. Assim, pode acontecer também agressão física.
O momento da reconciliação
Apesar disso tudo, o abusador quando vê que a vítima pode sair desse ciclo, tenta reconciliar-se com ela. Além do pedido de desculpas, ele também diz que vai mudar ou que já mudou, que não vai mais se repetir e todas as promessas. Entretanto, o ciclo não deve encerrar assim.
Para entendermos melhor como funciona este tipo de relacionamento, nós consultamos a psicóloga Flaviana Machado (CRP: 05/59505) para nos explicar como se dá essa relação. De acordo com Flaviana, o comportamento abusivo dentro de uma relação pode ser percebido no início, na maioria dos casos.
Segundo a psicóloga, a maneira como o abusador age, tentando ter controle sobre seu parceiro ou sua parceira, já sinaliza o tipo de relacionamento. “Esse início se apresenta dessas diferentes maneiras, mas logo costumam seguir um padrão e formam um ciclo universal: controle, humilhações, isolamento < violências < reconciliação”, disse Flaviana.
Flaviana alerta às vítimas de abusadores: “É preciso estar atento(a) às vozes alteradas, ofensas, isolamento, situações vexatórias, controle do comportamento e aos diversos tipos violência: física, moral, psicológica, sexual e/ou patrimonial.”
Ainda segundo a psicóloga, muitos relatos mostram que o abusador impede a vítima de ter atitudes e comportamentos que desagradam a ele. Desse modo, um dos principais sinais é quando inicia o controle sobre a vida da vítima: roupas, amizades, como fala e como se porta diante dos outros.
O abusador pode ter algum transtorno?
Perguntamos para Flaviana se o comportamento abusivo tem alguma relação com algum transtorno psicossocial. Segundo a psicóloga, os transtornos são “disfunções da nossa atividade cerebral que podem afetar o nosso humor, comportamento, raciocínio e até mesmo a forma de aprendizado e maneira de nos comunicarmos”.
Apesar de variar em suas manifestações, Flaviana explicou que acredita-se que eles são causados por fatores genéticos e ambientais. Sobre o abusador ter algum tipo de transtorno, a psicóloga disse que, como os sintomas variam, é preciso analisar cada caso e diagnosticar em clínica para fazer o tratamento correto.
“Muito possivelmente, poderiam se enquadrar em algum tipo de transtorno de personalidade, por exemplo. No entanto, é necessário que cada caso seja observado, pois os sintomas variam de pessoa para pessoa e cada um deles têm sua singularidade”, disse Flaviana Machado.
Tipos de violência contra a mulher
Segundo o Instituto Maria da Penha, a vítima pode sofrer cinco tipos de violência em uma relação com um abusador. São elas a violência sexual, patrimonial, psicológica, moral e física. Em todas, o abuso ocorre quando o abusador tenta controlar a vítima em alguma área da sua vida.
Ao atingi-la psicologicamente, por exemplo, o abusador busca causar algum dano emocional à vítima. Assim, suas atitudes buscam agredir o seu emocional, humilhá-la e controlar suas ações com ameaças, por exemplo.
Além disso, o abusador poderá violentar a vítima sexualmente, abalando sua moral diante à sociedade, retendo de seus bens e também a agredindo fisicamente.
Podemos notar um padrão de abuso mais comum tendo mulheres como vítimas. Desta maneira, perguntamos à psicóloga Flaviana se esse comportamento está relacionado ao gênero ou é fruto de uma sociedade patriarcal. Então, a psicóloga nos deu a explicação abaixo:
“Segundo o Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro, a violência praticada contra a mulher, nas diferentes formas como se apresenta hoje, no Brasil e no mundo, em especial aquela que ocorre no ambiente doméstico e familiar é, sobretudo, consequência da evolução histórica de hábitos culturais fundamentados em discursos patriarcais”, mas não podemos descartar e deixar de analisar os determinantes psicológicos que estão presentes nesses atos. Exemplo disso é o abuso de álcool e outras substâncias (…) Além disso, outros fatores podem estar associados a esse tipo de violência, como: antecedentes familiares de atos violentos, dependência emocional em relação ao agressor, baixo suporte social e psicológico às vítimas”.
A dependência emocional pode impedir que a vítima enxergue o abuso
Uma das consequências ou predisposição para ser um alvo do abusador é a fragilidade emocional. Desta forma, é possível notar que este é um dos principais impeditivos para a saída da vítima de um relacionamento abusivo.
Além disso, a dependência emocional pode ser criada enquanto o relacionamento começa. Uma das explicações que Flaviana nos deu foi que “se algumas mulheres não tiveram, por algum motivo, essas necessidades supridas, consequentemente, estabelecem crenças e pensamentos negativos, levando-as a pensar que não são amadas, desejadas e aceitas e a entrarem nesse tipo de relação e permanecerem nela. Ou seja, a dependência emocional é apenas a ponta do iceberg”.
Ainda de acordo com a psicóloga: “O vazio emocional, atrelado à necessidade de reconhecimento e à busca por características imaginárias e ideais em seus parceiros levam essas mulheres a um comportamento de omissão e submissão, reforçando que estes sujeitos possuem o direito de tratá-las como quiserem e impedindo que elas saiam da relação abusiva.”
Como reconhecer e agir em caso de dependência emocional
Flaviana contou como podemos reconhecer que existe uma dependência emocional em uma relação: “O principal fator para reconhecer a dependência emocional é quando, diante de todos esses sinais já mencionados sobre o comportamento do agressor, a vítima ainda o coloca como “deus” e justifica tais comportamentos com o que ela acredita ser amor e cuidado.”
Ao perguntarmos sobre como devemos agir ao enxergar alguém que esteja nesta condição, a psicóloga diz que devemos ajudar a vítima. Flaviana orienta que, apesar de ser a parte mais difícil, desafiadora e importante, é preciso ser empático e compreensivo.
“Quem percebe esse tipo de relação precisa estar atento a qualquer sinal de violência, denunciando aos órgãos competentes para que essas vítimas não sofram prejuízos ainda maiores”, concluiu a psicóloga.
Se você se viu em alguma das situações citadas, procure ajuda, denuncie se for preciso e busque amparo. Principalmente, nas pessoas em que você confia. Porém, se você está do outro lado e identifica um relacionamento abusivo com alguém que você conheça, não se cale.
Para denunciar violência contra a mulher, você pode ligar para a Central de Atendimento à Mulher através do telefone 180 ou em uma delegacia, sobretudo em uma especializada neste atendimento.
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